domingo, 6 de abril de 2008

Paradoxo

Ok. O título é uma piada interna e tanto. Explico.

Fui um dia à Praça da Liberdade, aqui mesmo em BH, "procurar" fotos para um trabalho de fotografia. A praça estava lotada, fato incomum para um sábado de manhã. Além das tradicionais famílias com suas crianças sobre um velotrol ou agarrando um poodle pela coleira, muitas e muitas pessoas com figurino à século XIX andavam de um lado a outro de um dos, a meu ver, espaços mais bonitos da capital. "Seria um teatro?". Como uma boa aspirante à repórter, resolvi investigar.
Acabei por descobrir que a Globo filmava ali um capítulo de sua próxima novela das seis. E que fascínio era aquilo para as pessoas. "Sabe moça, dizem que a Ana Paula Arósio está aqui". Não, não estava. "Aquele ali é o que fez o fulano, naquela novela do ano passado". Não me lembrava. "Não sabe moça? Fez o irmão do beltrano". Desculpe, mas a essa eu não assisti.

Observando (uma paixão minha), percebi que a emissora tomara cuidados meticulosos para que tudo se passasse mesmo no século XIX. Primeiro, os entornos da praça estavam "fechados". Um segurança em cada esquina, aos transeuntes, educadamente: "Moço, poderia dar meia-volta?". Até o ponto de ônibus da Praça, cuja plaquinha abriga umas boas quinze linhas de circulação diferentes, fora desativado. Bem me disse uma amiga, no outro dia, que ouviu no rádio que a região da praça enfrentara um congestionamento terrível no fim de semana. Coincidência?
Segundo, o desfrute da praça estava limitado. Num cálculo mental tosco, aproximadamente metade do espaço só podia ser pisado por globais. Bons seguranças se ocupavam do cordão de isolamento.
E, terceiro, a ambientação estava impecável, eu reconheço. A começar pelo figurino. As mulheres com o melhor vestido à la Paris, como acontecia na época. E os homens com seus ternos e chapéus lustrosos, ainda que sob o sol das onze da manhã. Tudo pra fazer jus àquela que, naquele tempo, era uma máxima: calor nos trópicos, indumentária do primeiro mundo. Depois, os carros. Ah, esses me inspiraram nostalgia. Onde antes passavam Gols, Fiestas e tudo o mais, agora transitavam os melhores modelos do início do século.

Tem também uma fator essencial, mas esse não é mérito da Globo. A Praça da Liberdade abriga nos arredores prédios datados da construção da capital, no final do século XIX. Hoje, eles sediam importantes órgãos estaduais, como a Secretaria de Estado de Educação. Pelo menos por enquanto, já que daqui a alguns meses pretende-se levar tudo lá pra divisa com Vespasiano.

Pois bem, como disse, ambientação impecável. E um elemento me chamou a atenção. Era um carrinho de pipoca bem arcaico, ainda que bonito. E, preso a ele, os balões. "Vai zoom, vai!". Alheios ao corre-corre danado, gritos de "corta!", "ação!" e buzinaço, eles estavam ali, leves e tranqüilos, agitando-se devagar quando ventava. Se pudessem, iriam embora desbravar a atmosfera.




3 comentários:

marigarcia disse...

Tá explicado porque quis fazer a matéria sobre praça: elas te fascinam. Isso é uma observação de um epísodio extracotidiano de uma das mais lindas praças (quiçá a mais) de Minas por um olhar bem mineiro, ou samístico (seguindo a tradição de transformar nomes e em outros nomes)
Mari

Humberto Santos disse...

Sâmia, aos poucos você está "soltando" seu texto. Ao lê-los quase percebi você contando seus "devaneios".
Humbs

Caio Lemos disse...

dá nem pra dizer q viajou ao passado né pq, afinal, como diz uma frase bem cretina:

aeromoça: "senhores passageiros, estamos sobrevoando o estado de minas gerais, favor atrasar seus relogios 200 anos"

HA-HA.

obs: cajuru é cidade historica? =P

bjo samia