sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sobre agulhas e astros do rock

Nada melhor que chegar em casa depois de uma provinha trabalhosa seguida do seu estágio. Ainda mais quando a revista do Projeto para o qual você trabalha está em processo de fechamento de edição. E mais ainda quando você trabalha na equipe de comunicação desse Projeto. Portanto, você tem responsabilidade sobre ela, quase como a um filho (tudo bem, um pouco de hipérbole não faz mal).
Pois bem, com um iogurte na mão e olheiras sob os olhos (uma conjunção de minha composição física mais um bocado de noites mal dormidas na semana), estiquei as pernas sobre o pufe que fica em frente ao sofá e liguei a Tv. Durante toda esta semana, o máximo de imagem em movimento que eu vi foram relances de quando a Lu aqui em casa estava assistindo à televisão ou um videozinho do Youtube. Zapeando de canal a canal (nessas horas me lembro do Elton, meu professor-patrão-coordenador de curso, quando disse que na maioria das vezes a gente assiste à Tv, simplesmente. Nenhum canal específico não...), passei pela RedeTv!. "Começa, agora, o Superpop, com Luciana Gimenez!!!". Tive que largar o controle sobre o sofá.

"Credo, ela assiste a isso. Nossa, que falta de cultura!". Sim, sim, sei que provavelmente isso pode ter passado pela sua cabeça. Mas o fato é que o Superpop, pra mim, é um caso a se estudar, no sentido acadêmico mesmo. E, para falar qualquer coisa dele, bem ou mal, é preciso assisti-lo. E mais: pra mim, é um programa rico. "Nossa, agora eu saio desse blog". Não, não me abandone, mas ele é rico sim. Rico pela quantidade de temas que pululam sobre os olhos cada vez que a Gimenez apresenta as barras de cereal emagrecedoras Dreamweek, quando alguma subcelebridade convidada sua senta-se no sofá vermelho para encarar o Diário Secreto ou mesmo quando o Ronaldo Esper vai dar suas agulhadinhas em famosos por aí.
Por trás da roupagem sensacionalista, a gente pode tirar uma quantidade sem fim de temas para discutir. E é inegável que, mesmo que seja aparentemente bonito e inteligente afirmar que o programa não presta, ele já está quase comemorando seu décimo aniversário. Sim, dez anos, sendo que há uns sete a Gimenez tomou as rédeas. Então, no mínimo deve ter audiência né? Já ouviu o tantararan-tantan, seguido de palmas e um grito da apresentadora de que "estamos liderando a audiência neste momento"? Sim, na calada de suas salas as pessoas devem sim estar assistindo à mãe do filho do líder de uma das maiores bandas de rock da história desfilar sobre o palco...


Pois bem. Vira que mexe está lá a Simoni ex-balão-mágico, a Mulher Salva-Vidas, a Gretchen do pipipipiripipi e até mesmo uma dita sósia da Madonna, imitando performances da musa pop e forçando as cordas vocais tentando entoar o Like a Virgin. Elas, geralmente, vão desabafar argruras pessoais, propagandear o novo filme pornô ou até mesmo ganhar visibilidade que ajude a receber convites para fazer show. Aí vem a questão: até onde isso me interessa? Ou seja, onde acaba o interessa privado e começa o público, se é que começa? Como delimitar uma fronteira entre essas dimensões? São coisas tão assim... A televisão enquanto instituição não assume o discurso de existir para servir ao "bem público"? Longe de entrar no mérito de discutir as muitas limitações dessa afirmação e até do tão bem falado bem comum, fato é que isso vende, isso interessa a muitos, isso dá audiência, isso repercute nas outras mídias. Sim senhor.

Às vezes também até que eu vejo possibilidadade de uma discussão mais ampla. Quando a Bruna Surfistinha (sim, a ex-garota de programa e autora do "O doce veneno do escorpião") segura o microfone e começa a falar de suas antigas rotinas de trabalho, logo logo os convidados, que parecem ter a função de "apertar" o convidado principal, começam a discutir a questão da prostituição. E dá-lhe ânimos exaltados. E, mesmo que a intenção do programa não seja propriamente essa, no outro dia a espectadora assídua, aquela que larga até o banho para ligar a Tv às 22 hs, pode comentar sobre isso com a vizinha. E assim começa a rede... É a melhor maneira de se discutir a prostituição? Não, de maneira alguma. Mas fato que se discute, bem ou mal.

Conteúdo programático? Variadíssimo. Desde a busca pela Gina dos palitos (sim, aquela loira de franjinha da caixa marrom, lembra-se?) até o ensaio sensual do Alexandre Frota, aquele marrucão que participou de alguma das Casas dos Artistas e que insiste em voltar à visibilidade com algum filme pornô. Tem também o Rafael Ilha, o ex-Polegar que engoliu umas pilhas. Aí o mais comum de se pensar é que "nossa, a televisão deveria levar mais cultura pras pessoas. O que isso vai acrescentar à vida delas?". Sim, isso seria de um beneficio sem igual. Mas o que você entende por cultura? É o que eleva intelectualmente? Ou é mesmo um modo de vida? E, também, a televisão não é uma entidade-mor, que paira sobre a sociedade e de lá lança pílulas de alienação. Não, ela, como qualquer outro meio de comunicãção, nasceu de necessidades sociais. Econômicas? Sim. Políticas? Igualmente. E, sendo assim, ela não está "descolada" (de novo, Elton) da sociedade. Então, é de certa forma um reflexo do que a sociedade, ou melhor, o que uma parte dela quer ver. Prova disso é a audiência que sustenta os 90 minutos diários do programa. Os motivos do interesse? Ah, são muitos. Como as pessoas lêem aquilo? Também podemos ficar vários pixels debatendo.

Devaneios à parte, não estou fazendo uma apologia à Gimenez, de maneira nenhuma. Só tentei demonstrar o quanto é legal fugir de análises simplistas de programas de Tv como esse. E a discussão poderia se estender milhas e milhas. Poderia fazer um blog só sobre o Superpop. E poderia se chamar, plagiando um quadro do programa, "Vai encarar?". Hahaha. Brincadeira.

Por último, uma coisinha que eu e Ju minha irmã comentamos uma vez. Sabia que, até há algum tempo, a música de abertura do programa era Satisfaction, dos Rolling Stones? Coincidência? E ela entrava desfilando, toda toda... Que o diga o Lucas Jagger.

3 comentários:

marigarcia disse...

Nêga, uma boa deixa pra você é ver a defesa da monografia da Vanessa Costa que é sobre o TV Fama. Que tá longe de ser tão freak-show quanto o Super Pop mas tem um quê de parecido que vai além de serem exibidos na mesma emissora.

Caio Lemos disse...

o soperpop é feito com uma linguagem especifica para um público especifico. ele e tantos outros. pra mta gent, é um dos poucos lugares onde se pode assitir a algum debate, alguma discussao sobre o q acontece por ai. n sei se precisaria ser tao bolachao qnt é, mas as pessoas acabam vendo graça, se divertindo e, o mais importante, se informando.

Humberto Santos disse...

Sâmia, estou vendo seu futuro. E ele é "grisalho". Ou manuelístico que vai para o Gris. As suas questões são a "cara" do Gris.