quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Por causa dela


Queria chegar à locadora, escolher o filme e voltar pra casa antes de o temporal desabar. Por isso, só mesmo um olhar rápido para cada dvd em exposição. Escuta o trovão lá fora, escuta. Anda rápido com isso, sá.

Este eu já vi, este também... Ah, sim, ali! Nação Fast Food! Nossa, eu já ouvira falar bem do filme. Deixe-me ler atrás do dvd. Era uma daquelas ficções de crítica à sociedade norte-americana (não tão panfletários quanto os filmes documentários de Michael Moore. Na verdade, nem um pouco panfletário, eu vi depois. Pelo contrário). Dessa vez, o alvo eram as redes de fast-food dos EUA. No filme, elas ganham personificação na rede Mickey's que, ao final das contas, é o personagem principal do filme. Vai esse mesmo.

-Moça, vou levar esse aqui.Justificar
-Só? - olha pra capa e, depois, pra mim.
-Sim.
-Você não está levando ele só por causa dessa menina aqui não, né? - ela aponta com o dedo para o contorno do território estadunidense na capa, particularmente para o ponto onde está Avril Lavigne, uma das atrizes do filme.
-Ahn??
-É, essa menina aqui. Porque, se for só por causa dela, fiquei sabendo que ela aparece no filme só por uns cinco minutos.


Acho que minha cara condena.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Meta texto

As férias em que estou agora passaram por aqui primeiro. Um período em que as postagens ficaram só nas idéias mesmo. Não raro, e tão frequente, coisas conteciam e já entravam no seleto (nem tanto assim) grupo de coisas eleitas para se destrinchar aqui. Só que, ainda que virtualmente, não chegaram a se materializar. Dó.

Quatro meses e uns poucos dias. É muita coisa pra quem criou esse blog dizendo que estava sentindo falta de algo para se expressar livremente sobre qualquer coisa, a qualquer hora e em qualquer local (salvas as habituais restrições). Tudo ficava pr'um depois e se perdia por aí. Engraçado que nem chegavam a existir, ou existiam só pra mim. Na verdade, existiam no mundo. Mas o formato pra entrar aqui, só eu podia dar. E não fiz.

Falta de tempo? Talvez. Mas ainda que tudo tenha sido tão corrido nestes cento e trinta e poucos dias, sempre houve tempo para bobagens. Não que este aqui seja uma delas (e que mal há se for?), mas por que escrever aqui, sem (quase) nenhum tipo de amarra, foi para o final de uma lista de prioridades cuja execução se deu aleatoriamente? Nada. As horas n'algum computador foram preenchidas com trabalho (uma parte considerável. O trabalho em campo ainda é mais saudável, creio eu depois de comparações. Os olhos podem lacrimejar, mas por outros motivos), faculdade, uma incrível baixa de discos, sites mil, caixas de correios abarrotadas e interações em redes virtuais viciantes.

Posso me lembrar de algumas coisas. Uma certa viagem aos confins de Minas rendiam algumas boas - uma tribo indígena sem nada e com muito coração, um taxidermista (empalhador) dono de um museu de antiguidades às margens da BR 116, um charlatão dos mais simpáticos que já conheci na vida. Ou então, a espera por ônibus e a permanência nos mesmos também. Isso sempre estimula vários posts. A espera em consultórios, gabientes e afins, também. Ademais, essas coisas de praxe - comentar política, religião, esportes e tal, não com a competência esperada, mas com um esforço pretendido.

Se fez falta? É, fez. Em alguns momentos é uma válvula de escape. E um termômetro de como andam as coisas na sua vida também. Lendo os primeiros posts, percebi o quanto de mim mudou neste meio-tempo. Talvez nem os mais próximos percebam. São coisas que só eu vou saber, pra todo o sempre.

Então, é Natal. Mais um bocado de coisas pululam na minha frente e pedem pra receber um tratamento bloguístico. Deixem-me ver se consigo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Um e outro astro

Bem dizem que a gente aprende com as crianças, em todos os sentidos. E a verdade do dito eu pude constatar mais do que nunca no sábado à noite, quando estávamos mamãe e eu caminhando em direção à casa de uma tia, em Cajuru.
Mamãe encontrou-se com uma moça que trabalhou com ela em uma escola. Acompanhada do marido e das duas filhas, a mulher ostentava uma barriga que predizia a chegada de um novo membro na família em meados de janeiro. Como é comum entre pessoas que trabalham juntas, as duas engajaram-se em uma conversa sobre professores, a merenda escolar e a eleição de uma nova diretoria.
Uma das meninas parecia ser alguns anos mais nova que eu, ao passo que a outra era uma agitada criança. Desde o início de nosso trajeto em comum, ela cantarolava palavras que eu não podia entender e ensaiava curiosas reboladas. Achando-a engraçadinha, tratei de puxar papo.
- Qual é seu nome mocinha?
- Maria Fernanda!
- E quantos anos você tem, Maria Fernanda?
- Seis - e representou com os dedos.
- O que você está cantando? - em tom amistoso, ao mesmo tempo em que, gratuitamente, ela me deu a mão.
- Titanic! - respondeu a graciosa.
- Que legal, então você conhece a música? Mas o filme é tão antigo, é de antes de você nascer...
- Tô cantando funk!
Taí, eu não sabia. E a garota, cronológicos seis anos e alguns a mais concedidos pela vivacidade, acabara de me mostrar, mesmo sem saber, que Leonardo di Caprio perdeu o trono para o Dj Leco.

sábado, 9 de agosto de 2008

Aspas #4

"E agora, a formação humana da Muralha da China, que siginifica... bem, significa uma muralha".
(BUENO, Galvão. Locução da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Pequim. China: Pequim. 2008)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Grandes Amores

Sobre uma pequena mesa, moringa com água, caneca e copo. Junto disso, uma planta e um banco simples de madeira, sob uma luz baixa e amarelada. À primeira vista, lugar comum. No entanto, ele ganha vida com a interpretação de João Bosco Alves na peça O Amor no Grande Sertão. Assiti à montagem no Festival de Inverno deste ano, em Diamantina. Coisa curiosa é que a diretora, Ana Leonel, é esposa do João. E são só os dois. Ele, com a interpretação magnífica, e ela, com roteiro, direção, figurino, cenário e tudo o mais. Um casal e tanto, eu diria.

A peça é inspirada em Grande Sertão: Veredas. O monólogo de João é, no início, um afluxo desconexo de causos do sertão mineiro, de trechos da infância do narrador-personagem Riobaldo e de reflexões sobre o bem e o mal, como no início do romance roseano. As tensões e conflitos entre bandos de jagunços no sertão permeiam a montagem. Ele fala a um interlocutor subentendido que, no caso de Amor no Grande Sertão, é o público que o assiste. Por vezes de olhar resignado, outras vezes andando sobre o palco, sempre com gestos eloqüentes, o ator João Bosco dá voz aos constantes aforismos presentes ao longo do livro. “Deus é paciência”.

O encontro com Reinaldo, que depois diz se chamar Diadorim, é rememorado com olhar nostálgico por João Bosco. Riobaldo não se esquece dos olhos verdes e das feições leves daquele jagunço moço que viu pela primeira vez à beira do Velho Chico. “Perto da água todo mundo é feliz”. O contato com Diadorim se estreita mais e mais nas andanças dos dois jagunços pelo sertão mineiro. E o sentimento começa a brotar. “Era ele tá perto de mim e nada me faltava”.

João Bosco também faz conhecer, por meio de Riobaldo, Nhorinhá e Otacília, mulheres que povoam os pensamentos do sertanejo. Apesar disso, a angústia cresce. Como dois jagunços poderiam andar de mãos dadas em meio ao bando? Diadorim passa a demonstrar ciúme pelas duas raparigas, o que culmina em um acordo: dali em diante, nenhum dos dois se envolveria com mulher alguma. Sem se culpar, agora Riobaldo assume pra si mesmo que ama Diadorim, sem, no entanto, revelar isso a ele.

As tensões entre os bandos rivais se acirram. O chefe Joca Ramiro morre e Diadorim quer vingança a todo custo. E a batalha não demora a começar. Diadorim e Hermógenes, o assassino de Joca Ramiro, se engalfinham numa luta sangrenta. A morte carrega ambos. E João Bosco, o rosto em tons escarlates e os olhos lacrimejantes, interpreta com perfeição a última dor de Riobaldo na peça: a descoberta de que Diadorim era, na verdade, uma mulher. “Diadorim, meu amor”.

O público aplaudiu de pé por um tempinho. João Bosco foi objetivo. "Muito obrigado!".

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Personagem # 0

Um personagem da vida real pode, porventura, ganhar as "páginas" do blog daqui em diante.

Sempre de cócoras defronte ao portão verde de casa, na mais genuína representação inconsciente da pose de Jeca Tatu. Esse é o Sérgio. Vizinho calouro em meio a vizinhas veternas, o Sérgio se arranchou na casa que dá de frente pra minha, lá em Cajuru, há cerca de dois anos. E, na sua quietude permanente, que toma forma em um corpo esguio, cabelos grisalhos e um bigode escuro bem-aparado, ele se faz notável.

Além de vínculos afetivos, Sérgio também tem ligações de sangue com as moradoras. É pai da mocinha da casa do portão verde, que, em meio a um pique-esconde e outro, vira-e-mexe me falava sobre o Sérgio. "Hoje vou visitar meu pai".

Um dia minha mãe me explicou a situação. A mãe da mocinha namorou um tempo com o Sérgio, e a mocinha foi fruto desse namoro. Na época, ele já tinha se separado de outra mulher e tinha, inclusive, filhas crescidas.

Quando ainda morava em Cajuru, notei que o Sérgio vinha visitando muito a mocinha da casa do portão verde. A mãe, sempre uma anfitriã das melhores. E a mocinha, cuja característica mais marcante é a simplicidade por trás de um corpanzil generoso, mantinha o sorriso durante toda a visita.

E ele foi se achegando. Ironia do destino ou não, o dono da casa ao lado da casa de portão verde foi-se embora pra outras bandas. "Aluga-se". Não demorou muito, o Sérgio era o inquilino. E os dias da mocinha e da mãe dela pareciam mais felizes. "Pai!?". Todo o dia a mocinha chamava no portão para oferecer um prato de comida, um saco de biscoitos ou mesmo um dedo de prosa.

Hoje, quando estou em Cajuru, é impossível não vê-lo. Quando abro o portão da rua, em qualquer hora do dia, Sérgio é o primeiro que vejo. De cócoras, defronte ao portão verde. Dá até mais segurança de sair de casa. Ele vai estar sempre olhando pra ela. E para as outras casas. Para os cães que passeiam. Para a rua.

sábado, 14 de junho de 2008

Brooke Waggoner



Oh, why here it's so-so
but it is no, no Colorado
I miss my home and the cocoa
I wanna go home...

(...)

"A música é So-so", ele disse por e-mail.
Quem é ele? Ele é Flávio, um amigo.
"É a sua cara", ele disse.
Realmente, me agradou muito a música. Quem canta?
"Brooke Waggoner", por e-mail.
Nossa, vou procurar mais coisas dela.
"Ela disponibilizou o CD para baixar, no site dela", por msn.

Um site belíssimo, com ares retrô. Realmente, lá estava "Click here for free download". Cliquei. Só precisa de e-mail, nome, cep e país (para os três últimos, exercite sua criatividade). Eles vão te mandar um e-mail pra confirmar e tudo, mas é bem rápido.

Daí vem. Um acompanhamento belíssimo de piano, uma voz suave e uma letra simples compõem músicas com tons que vão do nostálgico ao melancólico. Lindo.

Brooke Waggoner, norte-americana que vive em Nashville, em Tenessee, tem apenas 23 anos, e compõe desde os 10. Com formação superior em Composição e Orquestragem Música, lançou esse primeiro CD, o Fresh Pair of Eyes, com apenas seis faixas que, convenhamos, te fazem pedir mais. Ela conta que sempre soube que música seria o que ela faria da vida. E muito bem feito, aliás. (biografia no site)

Em tenpos em que você encontra tudo (sim, tudo) na internet, o engraçado são as poucas referências à moça. O CD foi lançado há quase um ano, em agosto de 2007, mas no orkut não existe nenhuma comunidade e ela aparece como referência de gosto musical em apenas um perfil. Um perfil! Além disso, na comunidade "Discografias", nada. Páginas no google, muito poucas. No Last FM, "ainda não temos uma descrição para este artista. Gostaria de nos ajudar?", embora pelo menos existam a foto e as músicas. No youtube, alguns vídeos.

Pelo menos no myspace ela tem seu espaço (hehe). Lá ela é muito comentada. Lá sim. As pessoas agradecem pela música. E, pelo visto, os show dela são ainda locais, para pequenas audiências. Barzinhos e cafés, parece. Quem sabe não é melhor assim?

www.brookewaggonermusic.com



sexta-feira, 30 de maio de 2008

Aspas # 3

"O mundo se divide entre aqueles que compram canetas e aqueles que pegam as canetas daqueles que as compraram"
(SILVEIRA, Carolina. Encontro no Chico da Carne 3. Belo Horizonte: Barro Preto. 2008)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A carona podia esperar

A menina atravessou depressa a rua. O seu ônibus passaria do outro lado da calçada e ela não sabia o horário. Em dia de sábado os horários mudam, ficam mais espaçados, e ela havia se esquecido de olhar no site quando passaria outro.

Com uma mochila nas costas e sacola em uma das duas mãos, com o presente recém-comprado de dia das mães dentro dela, ela enfim conseguiu atravessar, em meio àquele mundo de veículos que só as capitais conhecem. A pressa era grande: a carona para a sua cidade de origem ia sair dali a 20 minutos, de um ponto bem distante dali. Além disso, tinha que considerar o trânsito que, em vésperas de datas como aquela, tendia a ficar mais cheio. Também, não queria passar vergonha com o primo, que lhe dava a carona, bondosamente, todas as vezes que ela pedia.

Inquieta e já no ponto, ocupado por idosos, adultos e crianças, ela virava incessantemente a cabeça para a direção da qual o ônibus viria. Tirava o celular da mochila: 15 para as uma da tarde. Nem sinal de ônibus. Só faltava o 2004 não passar aos sábados. Pronto. Aí complicava. Como ia fazer para avisar o primo que iria atrasar, sendo que, para variar, não tinha créditos em seu celular? Ele ia perceber a demora e iria ligar. Aí ela ia ter que se desculpar até, dizendo do trânsito, do erro de ônibus, e que já tinha saído de casa tarde pra comprar o presente da mãe, já que...

Aí, percebeu ao lado dela uma senhora. Assim, devia ter uns 75 anos. Cabelos grisalhos e crespos, pele mulata, vestida de cinza e carregando sacolas. Numa delas, dava pra ver um ramalhete simples, de flores frescas. Pelo olhar determinado dela, na mesma direção que o da menina, ela parecia utilizar sempre aquele ponto.

-A senhora sabe se o 2004 passa mesmo aqui? Estou esperando há dez minutos e ele não chega... Tô com medo de ele não passar.
-Ele vai pra onde?
-Para a avenida Antônio Carlos.
-Ah, passa sim! Pode ficar tranqüila que ele passa, minha filha.
-Ah, que bom! Obrigada!
Agora estava mais tranqüila. Era só esperar. Mas, que boa vontade tinha tido aquela senhora para com ela. Respondera com um sorriso tão amável, desses que não é tão comum assim em conversas com desconhecidos... Virou-se para ela mas, agora, sem o egoísmo de antes:

-O ônibus da senhora também passa aqui? (Numa espécie de pergunta idiota, daquelas que já se sabe a resposta)
-Passa sim, minha filha. É o ônibus que vai para o Bonfim. Tenho que ver mamãe, pois amanhã não vou poder ver ela.
-Que legal! Então a senhora ainda tem mãe? E ela mora no bairro Bonfim?
-Não, eu vou é levar essas flores no túmulo dela, no cemitério Bonfim.
Pausa. Má nota terrível, a menina pensou. Há pouco mais de um ano, ainda não conhecia de cor o nome de todos os cemitérios da cidade; lembrava-se só do da Paz e do da Boa Viagem. Agora a senhora com certeza iria desviar o olhar para a avenida por onde o ônibus viria, e não ia querer mais papo. Com razão. Surpreendentemente:
-Sabe menina, acho que hoje vou atrasar o almoço. Mas não posso deixar de ver mamãe, porque amanhã minhas filhas e netos vão almoçar lá em casa. Eu tenho um filho que mora comigo, ele é taxista sabe. Ah, mas ele pode pedir marmita também, se achar ruim.
-Ah, ele vai entender que é por uma boa causa.
-Pois é, vai sim. Aí amanhã vai aquele tanto de neto lá pra casa. Tive uma nora que morreu com 35 anos, quando meu neto tinha 9 anos. Hoje ele tem 15, e vai pra lá amanhã também.
-Então a senhora ajudou a olhar ele?
-Sim, ajudei. E meu marido já morreu faz tempo. Criei cinco filhos, e hoje...

Uma pequena aglomeração começara a se juntar no passeio. O 2004 estacionava próximo ao meio-fio.
-Ô senhora, eu preciso ir, meu ônibus chegou. Muito obrigada pelas informações. Um feliz dia das mães pra senhora, viu?
-Obrigada, minha filha. Você tem mãe?
-Graças a Deus, sim.
-Então mande um abraço pra ela.
-Mando sim!
-Qual é seu nome? O meu é Celina, minha filha.
A menina respondeu e abriu um largo sorriso, acenando com a mão, já nos degraus da porta do ônibus. Faltavam 5 para as uma. Ela estava com fome, o ônibus estava cheio e, o sol lá fora, de rachar. Mas ela tinha sido merecedora de confiança gratuita aquele dia. Se teve pagamento, foi apenas com um sorriso.
P.s.: Qualquer semelhança é mera coincidência.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Aspas # 2

"Não está escrito nas estrelas que isso vai dar certo"
(MARTINS, Franklin. Abertura do I Fórum Nacional de Tv's públicas. Brasília: Secretaria do Audiovisual. 2008)

Aspas # 1

"Faço astrologia e tarô. Não cobro consulta. Favor trazer uma garrafa de água mineral"
(FAMIGERADO, cartaz. Em um poste na esquina. Belo Horizonte: bairro Padre Eustáquio. 2008)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

Aspas # 0

De hoje em diante, uma seção esporádica de ditos que merecem ser postos à mostra. A classificação não tem limites. Peridiocidade, difícil de dizer. Só sei que, se valeu a pena postar, tá no blog.
"Tem coisa muito boa na música brasileira. Agora, chamar de música o Creu é o que não podemos aceitar"
(GOUVEIA, Bruno. Entre "Vento Ventania" e "Onde você mora". In___Show do Biquini Cavadão. Divinópolis: Fenacer, 2008)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sobre agulhas e astros do rock

Nada melhor que chegar em casa depois de uma provinha trabalhosa seguida do seu estágio. Ainda mais quando a revista do Projeto para o qual você trabalha está em processo de fechamento de edição. E mais ainda quando você trabalha na equipe de comunicação desse Projeto. Portanto, você tem responsabilidade sobre ela, quase como a um filho (tudo bem, um pouco de hipérbole não faz mal).
Pois bem, com um iogurte na mão e olheiras sob os olhos (uma conjunção de minha composição física mais um bocado de noites mal dormidas na semana), estiquei as pernas sobre o pufe que fica em frente ao sofá e liguei a Tv. Durante toda esta semana, o máximo de imagem em movimento que eu vi foram relances de quando a Lu aqui em casa estava assistindo à televisão ou um videozinho do Youtube. Zapeando de canal a canal (nessas horas me lembro do Elton, meu professor-patrão-coordenador de curso, quando disse que na maioria das vezes a gente assiste à Tv, simplesmente. Nenhum canal específico não...), passei pela RedeTv!. "Começa, agora, o Superpop, com Luciana Gimenez!!!". Tive que largar o controle sobre o sofá.

"Credo, ela assiste a isso. Nossa, que falta de cultura!". Sim, sim, sei que provavelmente isso pode ter passado pela sua cabeça. Mas o fato é que o Superpop, pra mim, é um caso a se estudar, no sentido acadêmico mesmo. E, para falar qualquer coisa dele, bem ou mal, é preciso assisti-lo. E mais: pra mim, é um programa rico. "Nossa, agora eu saio desse blog". Não, não me abandone, mas ele é rico sim. Rico pela quantidade de temas que pululam sobre os olhos cada vez que a Gimenez apresenta as barras de cereal emagrecedoras Dreamweek, quando alguma subcelebridade convidada sua senta-se no sofá vermelho para encarar o Diário Secreto ou mesmo quando o Ronaldo Esper vai dar suas agulhadinhas em famosos por aí.
Por trás da roupagem sensacionalista, a gente pode tirar uma quantidade sem fim de temas para discutir. E é inegável que, mesmo que seja aparentemente bonito e inteligente afirmar que o programa não presta, ele já está quase comemorando seu décimo aniversário. Sim, dez anos, sendo que há uns sete a Gimenez tomou as rédeas. Então, no mínimo deve ter audiência né? Já ouviu o tantararan-tantan, seguido de palmas e um grito da apresentadora de que "estamos liderando a audiência neste momento"? Sim, na calada de suas salas as pessoas devem sim estar assistindo à mãe do filho do líder de uma das maiores bandas de rock da história desfilar sobre o palco...


Pois bem. Vira que mexe está lá a Simoni ex-balão-mágico, a Mulher Salva-Vidas, a Gretchen do pipipipiripipi e até mesmo uma dita sósia da Madonna, imitando performances da musa pop e forçando as cordas vocais tentando entoar o Like a Virgin. Elas, geralmente, vão desabafar argruras pessoais, propagandear o novo filme pornô ou até mesmo ganhar visibilidade que ajude a receber convites para fazer show. Aí vem a questão: até onde isso me interessa? Ou seja, onde acaba o interessa privado e começa o público, se é que começa? Como delimitar uma fronteira entre essas dimensões? São coisas tão assim... A televisão enquanto instituição não assume o discurso de existir para servir ao "bem público"? Longe de entrar no mérito de discutir as muitas limitações dessa afirmação e até do tão bem falado bem comum, fato é que isso vende, isso interessa a muitos, isso dá audiência, isso repercute nas outras mídias. Sim senhor.

Às vezes também até que eu vejo possibilidadade de uma discussão mais ampla. Quando a Bruna Surfistinha (sim, a ex-garota de programa e autora do "O doce veneno do escorpião") segura o microfone e começa a falar de suas antigas rotinas de trabalho, logo logo os convidados, que parecem ter a função de "apertar" o convidado principal, começam a discutir a questão da prostituição. E dá-lhe ânimos exaltados. E, mesmo que a intenção do programa não seja propriamente essa, no outro dia a espectadora assídua, aquela que larga até o banho para ligar a Tv às 22 hs, pode comentar sobre isso com a vizinha. E assim começa a rede... É a melhor maneira de se discutir a prostituição? Não, de maneira alguma. Mas fato que se discute, bem ou mal.

Conteúdo programático? Variadíssimo. Desde a busca pela Gina dos palitos (sim, aquela loira de franjinha da caixa marrom, lembra-se?) até o ensaio sensual do Alexandre Frota, aquele marrucão que participou de alguma das Casas dos Artistas e que insiste em voltar à visibilidade com algum filme pornô. Tem também o Rafael Ilha, o ex-Polegar que engoliu umas pilhas. Aí o mais comum de se pensar é que "nossa, a televisão deveria levar mais cultura pras pessoas. O que isso vai acrescentar à vida delas?". Sim, isso seria de um beneficio sem igual. Mas o que você entende por cultura? É o que eleva intelectualmente? Ou é mesmo um modo de vida? E, também, a televisão não é uma entidade-mor, que paira sobre a sociedade e de lá lança pílulas de alienação. Não, ela, como qualquer outro meio de comunicãção, nasceu de necessidades sociais. Econômicas? Sim. Políticas? Igualmente. E, sendo assim, ela não está "descolada" (de novo, Elton) da sociedade. Então, é de certa forma um reflexo do que a sociedade, ou melhor, o que uma parte dela quer ver. Prova disso é a audiência que sustenta os 90 minutos diários do programa. Os motivos do interesse? Ah, são muitos. Como as pessoas lêem aquilo? Também podemos ficar vários pixels debatendo.

Devaneios à parte, não estou fazendo uma apologia à Gimenez, de maneira nenhuma. Só tentei demonstrar o quanto é legal fugir de análises simplistas de programas de Tv como esse. E a discussão poderia se estender milhas e milhas. Poderia fazer um blog só sobre o Superpop. E poderia se chamar, plagiando um quadro do programa, "Vai encarar?". Hahaha. Brincadeira.

Por último, uma coisinha que eu e Ju minha irmã comentamos uma vez. Sabia que, até há algum tempo, a música de abertura do programa era Satisfaction, dos Rolling Stones? Coincidência? E ela entrava desfilando, toda toda... Que o diga o Lucas Jagger.

sábado, 19 de abril de 2008

O fabuloso destino de Amelie Poulain

Já faz um tempo que assisti. O que mais me agradou? A belíssima fotografia. E a trilha, que vez ou outra ainda soa pra mim. Também o enredo, bastante peculiar.
A combinação disso tudo resulta num filme em que a sensibilidade aflora do início ao fim; um misto de sinestesia e identificação. Descobri que tenho um lado Amelie Poulain...

domingo, 6 de abril de 2008

Paradoxo

Ok. O título é uma piada interna e tanto. Explico.

Fui um dia à Praça da Liberdade, aqui mesmo em BH, "procurar" fotos para um trabalho de fotografia. A praça estava lotada, fato incomum para um sábado de manhã. Além das tradicionais famílias com suas crianças sobre um velotrol ou agarrando um poodle pela coleira, muitas e muitas pessoas com figurino à século XIX andavam de um lado a outro de um dos, a meu ver, espaços mais bonitos da capital. "Seria um teatro?". Como uma boa aspirante à repórter, resolvi investigar.
Acabei por descobrir que a Globo filmava ali um capítulo de sua próxima novela das seis. E que fascínio era aquilo para as pessoas. "Sabe moça, dizem que a Ana Paula Arósio está aqui". Não, não estava. "Aquele ali é o que fez o fulano, naquela novela do ano passado". Não me lembrava. "Não sabe moça? Fez o irmão do beltrano". Desculpe, mas a essa eu não assisti.

Observando (uma paixão minha), percebi que a emissora tomara cuidados meticulosos para que tudo se passasse mesmo no século XIX. Primeiro, os entornos da praça estavam "fechados". Um segurança em cada esquina, aos transeuntes, educadamente: "Moço, poderia dar meia-volta?". Até o ponto de ônibus da Praça, cuja plaquinha abriga umas boas quinze linhas de circulação diferentes, fora desativado. Bem me disse uma amiga, no outro dia, que ouviu no rádio que a região da praça enfrentara um congestionamento terrível no fim de semana. Coincidência?
Segundo, o desfrute da praça estava limitado. Num cálculo mental tosco, aproximadamente metade do espaço só podia ser pisado por globais. Bons seguranças se ocupavam do cordão de isolamento.
E, terceiro, a ambientação estava impecável, eu reconheço. A começar pelo figurino. As mulheres com o melhor vestido à la Paris, como acontecia na época. E os homens com seus ternos e chapéus lustrosos, ainda que sob o sol das onze da manhã. Tudo pra fazer jus àquela que, naquele tempo, era uma máxima: calor nos trópicos, indumentária do primeiro mundo. Depois, os carros. Ah, esses me inspiraram nostalgia. Onde antes passavam Gols, Fiestas e tudo o mais, agora transitavam os melhores modelos do início do século.

Tem também uma fator essencial, mas esse não é mérito da Globo. A Praça da Liberdade abriga nos arredores prédios datados da construção da capital, no final do século XIX. Hoje, eles sediam importantes órgãos estaduais, como a Secretaria de Estado de Educação. Pelo menos por enquanto, já que daqui a alguns meses pretende-se levar tudo lá pra divisa com Vespasiano.

Pois bem, como disse, ambientação impecável. E um elemento me chamou a atenção. Era um carrinho de pipoca bem arcaico, ainda que bonito. E, preso a ele, os balões. "Vai zoom, vai!". Alheios ao corre-corre danado, gritos de "corta!", "ação!" e buzinaço, eles estavam ali, leves e tranqüilos, agitando-se devagar quando ventava. Se pudessem, iriam embora desbravar a atmosfera.




quinta-feira, 3 de abril de 2008

Era uma vez uma promessa de blog

Inaugurar um blog não é coisa fácil. É aquele velho dilema: "Escrever o quê?".

Quando falava de minha vontade em ter um blog, me perguntavam: "Ah é? E vai ser sobre o quê?". Eu dizia, digo e direi a quem o perguntar: "Não elegi um tema. Serão reflexões, mesmo". Fico divagando: a gente não pensa, vive ou reflete por "bloquinhos", numa tosca comparação. Claro que a gente herda socialmente e, ao mesmo tempo, constrói categorizações que ajudam a "organizar" o pensamento, mas em momento nenhum ele se disassocia assim, dividinho. Minha vontade já é antiga. Mas sempre adiava. "Ah, qualquer dia faço".

Lembro-me de um dia em que estava no ônibus e um senhor mais idoso entrou com um violão. Eu voltava do estágio; ainda estava em férias na faculdade. Cansada, com fome e com o celular marcando umas seis da tarde. Pra mim era só mais uma pessoa a entrar. Afinal, BH com seus três milhões de habitantes (é isso mesmo?) é um vaivém intenso de pessoas, e o ônibus é um dos melhores mostruários disso. Pois bem, estava a olhar pela janela e pensar na vida, atividade preferida dentro de ônibus, quando começa um inezita barroso: "Com a marvada pinga é que eu me atrapáio/Eu entro na venda e já dou meio táio/Pego no copo e dali não saio/Ali memo eu bebo/Ali memo eu caio". E uma voz até boa, entoada, animada e apaixonada. Quem era? Aquele senhor. E as pessoas da parte da frente do ônibus estão sorrindo, junto com o trocador. Daí ele entoa mais uma, da qual sinceramente não me lembro. E agora os passageiros de trás também já acham graça. E ele volta com a marvada. Desta vez, alguns lá da frente até ajudam. E eu, então, percebo que estou com um daqueles sorrisos tipicamente abobados estampados no rosto e alguns pêlos do braço eriçados. Ou seja, estava arrepiada.

O que mais ele cantou? Não sei, porque meu ponto chegou. E naquele dia, caminhando pela calçada, a um quarteirão de casa, eu senti uma vontade transbordante de colocar aquilo no papel. Tá bem, pode ser numa tela de computador, se agora parece que vai ser assim. E sempre prometia pra mim mesma (e para algumas pessoas) que iria fazer meu blog. Só que só agora eu resolvi cumprir a promessa.