Inaugurar um blog não é coisa fácil. É aquele velho dilema: "Escrever o quê?".
Quando falava de minha vontade em ter um blog, me perguntavam: "Ah é? E vai ser sobre o quê?". Eu dizia, digo e direi a quem o perguntar: "Não elegi um tema. Serão reflexões, mesmo". Fico divagando: a gente não pensa, vive ou reflete por "bloquinhos", numa tosca comparação. Claro que a gente herda socialmente e, ao mesmo tempo, constrói categorizações que ajudam a "organizar" o pensamento, mas em momento nenhum ele se disassocia assim, dividinho. Minha vontade já é antiga. Mas sempre adiava. "Ah, qualquer dia faço".
Lembro-me de um dia em que estava no ônibus e um senhor mais idoso entrou com um violão. Eu voltava do estágio; ainda estava em férias na faculdade. Cansada, com fome e com o celular marcando umas seis da tarde. Pra mim era só mais uma pessoa a entrar. Afinal, BH com seus três milhões de habitantes (é isso mesmo?) é um vaivém intenso de pessoas, e o ônibus é um dos melhores mostruários disso. Pois bem, estava a olhar pela janela e pensar na vida, atividade preferida dentro de ônibus, quando começa um inezita barroso: "Com a marvada pinga é que eu me atrapáio/Eu entro na venda e já dou meio táio/Pego no copo e dali não saio/Ali memo eu bebo/Ali memo eu caio". E uma voz até boa, entoada, animada e apaixonada. Quem era? Aquele senhor. E as pessoas da parte da frente do ônibus estão sorrindo, junto com o trocador. Daí ele entoa mais uma, da qual sinceramente não me lembro. E agora os passageiros de trás também já acham graça. E ele volta com a marvada. Desta vez, alguns lá da frente até ajudam. E eu, então, percebo que estou com um daqueles sorrisos tipicamente abobados estampados no rosto e alguns pêlos do braço eriçados. Ou seja, estava arrepiada.
O que mais ele cantou? Não sei, porque meu ponto chegou. E naquele dia, caminhando pela calçada, a um quarteirão de casa, eu senti uma vontade transbordante de colocar aquilo no papel. Tá bem, pode ser numa tela de computador, se agora parece que vai ser assim. E sempre prometia pra mim mesma (e para algumas pessoas) que iria fazer meu blog. Só que só agora eu resolvi cumprir a promessa.
5 comentários:
Qual a melhor forma de dar início a um blog do que com uma boa história? Ônibus de fato é um dos espaços mais ricos para gente como a gente que está tentando aprimorar o olhar para o jornalístico. Boa sorte e que venham muitos e muitos devaneios.
Mari
Bem do seu jeitinho, eu torço muito para que esse blog se edifique e nos presentei com suas reflexões. Gosto das suas dúvidas. Me são familiares. E que delícia essa história da viola no ônibus! Adoro a cultura caipira!!
Rsrsrsrs =) Um beijo querida!
Meu deus, fiquei arrepiado tb. Será que foi porque vc falou de cachaça em algum momento do texto?
Mas sem brincadeira:
Graças a deus eu tenho dois olhos, duas orelhas e o que restou dos outros sentidos; entretanto, acho que vai ser interessante ver o mundo através "dos seus olhos" e do que vc pode somar de ficção e beleza à realidade... (mas, se da próxima vez, tiver cachaça, me põe na história)
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